terça-feira, 23 de junho de 2009

Infinito

Ao chegar da rua, ainda sinto o frio nas pernas e braços.
E descubro que meu frio é muito passageiro.
Sento diante da mesa de jantar, ainda posta por mim.
E saboreio, ainda mornas, as batatas que assei.
Nesse instante ouço o vento nas janelas,
Que no décimo segundo andar bate forte,
Vou até um dos quartos e observo como um voyeur,
As ruas geladas de São Paulo.
No mesmo momento, pelas lentes da luneta,
Me salta aos olhos, uma imagem de dor,
A qual detalho em pormenores:

Os carros passando rápido fizeram com que o ar se deslocasse forte e a pequena fogueira feita pelo mendigo, para aquecer a ele e seus dois amigos, virou-se contra os três.
Num lance de rapidez, seus amigos, cães, correram para o meio da rua e foram atropelados pelo carro que passava, num misto de dó e medo o mendigo tentava salvar seus amigos, sem se aperceber que suas calças ardiam em chamas, não demorou muito para que ele se tornasse uma bola de fogo, o fogo contornou suas vestes surradas e clarearam a rua por onde correu.
Os carros desviavam, ninguém ajudava, os três morreram.
Voltei para a sala de jantar, peguei o resto de comida da mesa, joguei no lixo, vesti uma blusa e saí para a rua.
Chegando perto de onde imaginava ter sido o acidente, notei que havia sobrado, no meio das cinzas, ainda acesas, uma correntinha, que parecia de ouro, juntei-a com cuidado e tentei limpá-la na manga, nela havia gravado um nome, era o meu nome, imediatamente veio à mente uma única cena, o dia de minha formatura, no qual ganhei aquele presente, e tinha nela uma cruz, que considerei um amuleto daquele dia em diante.Me veio à mente toda minha história, e como havia chegado até ali, vestindo aqueles trapos, tendo apenas dois cães como amigos, aliás, amigos de verdade, que velavam meu sono, em troca do carinho que dividia com eles. Lembrei de todos os momentos de minha vida, e me senti culpado pelos amigos estendidos na rua, fui tentar tirá-los de lá, e naquela emoção toda, não vi que minha roupa pegava fogo, mas pra mim, não importava mais, meus amigos estavam no chão, nem se mexiam, na luta contra o fogo e os carros que passavam, ainda, num último instante, olhei para o prédio em frente e vi que de uma janela, alguém me olhava, e ouvi seus pensamentos.